terça-feira, 29 de junho de 2010

bruxa onilda

O Casamento da Bruxa Onilda

Eu. Bruxa Onilda, quando jovem , eu era uma mulher lindíssima. Andava sempre muito elegante e, por isso, tinha muitos pretendentes. Um dia, varrendo a casa pra cá e pra lá, achei um moeda de ouro. Primeiro pensei em vendê-la e depositar o dinheiro na caderneta de poupança, mas logo desisti. Achei melhor comprar alguma coisa que me deixasse ficar ainda mais bonita. Eu era muito convencida! E foi o que fiz. Comprei um grande laço azul da cor do céu e o amarrei na ponta do chapéu. Resolvi fazer uma faxina geral na casa para deixá-la brilhando como eu. Comecei pelos vidros da porta da frente para que todos pudessem ver como eu
estava bonita.

Estava quase terminando, quando apareceu um esqueleto - vocês sabem que nós as bruxas, temos umas amizades meio esquisitas... Só de me ver, ficou apaixonado e fez uma declaração de amor. Disse que era um bom partido, que bom partido, que comia pouco e que estava louco por meus ossos. Só impôs uma condição: que não tivéssemos cachorro em casa, pois de cachorro ele morria de medo! Nem dei bola pra ele! Sei lá!... Era magro demais e, além disso, não gosto de carecas. Ele foi embora mergulhado num mar de lágrimas, dizendo que, de tanto desgosto, era capaz até de voltar a viver.

Estava limpando a garagem, quando - pá! Pá! Pá! - ouvi uns passos e vi que se aproximava, sorrindo, o monstro Frankenstein. Declarou-se ali mesmo, e ali mesmo levou um fora. Ele era tão alto e forte que fiquei com medo. E se um dia ele me desse uma pisada? Meu pobre pé
ficaria achatado como o pé de um pato.

Mais tarde, quando passava o aspirador de pó nos tapetes, apareceu um fantasma, que também estava apaixonado por mim e se declarou dizendo: uuuuuhh! Mas o coitado não teve sorte: o aspirador engoliu o lençol dele. E ele, tímido como era, ficou vermelho de vergonha e desapareceu dizendo: uuuuuhh!

Estava no terraço batendo meu colchão, quando vi se aproximar uma espécie de morcego enorme voando em ziguezague. Pensei em espantá-lo, mas ele logo virou um vampiro lindo, daqueles bem elegantes, de fraque e capa preta. E foi dizendo: bruxa Onilda, você que é tão linda, quer se casar comigo? Minha resposta foi não: com aquelas presas pontudas, ele mal conseguia fechar a boca. Além disso, parecia um chuveiro quando falava. E ele, em prantos, sumiu pelo ar.

Estava tirando as teias de aranha da torre quando, de repente, apareceu uma múmia, que me declarou amor eterno, entusiasmada com minha beleza. Prometi pensar: aquele tipo todo envolto em faixas me dava impressão de ser um daqueles caras que vivem enrolados. Diante disso, ele voltou ao seu sarcófago para curtir lentamente sua tristeza.

Estava no jardim varrendo as folhas secas, quando, por detrás das árvores iluminadas pelo luar, apareceu um lobisomem. Ele também queria casar comigo, mas eu disse não. Sabem por quê? Lobisomem só aparece em noites de lua cheia e, desse jeito, a gente só iria se ver uma vez por mês. E assim, foi embora uivando, com o rabo entre as pernas. Não deu nem tempo de consolá-lo com um cafuné na cabeça, nem de recomendar uma loção contra pulgas que era uma verdadeira maravilha.

Finalmente, quando estava estendendo a roupa lavada no varal, ouvi alguém assobiar para mim, cheio de admiração. Era um jovem muuuuuuuiiiiiiiito interessante, que vinha com uma flor na mão. Disse que se chamava bruxo Pedrusco Pardusco e que, só de me ver, tinha ficado perdidamente apaixonado e queria casar o quanto antes. Aí, não resisti e disse sim. Ele tinha cara de bom moço e parecia entender muito de magia e feitiçaria. Resolvemos casar no dia seguinte e passamos a manhã inteira mandando convites a todos os amigos. E nos casamos. A cerimônia foi emocionante demais... Em companhia de nossos amigos mais íntimos, fomos comemorar com um almoço bem caprichado no pico mais alto da montanha mais difícil de escalar do país. Ai, que romântico!...

Quando já tínhamos comido tudo, chegou o momento solene de brindar. Pedrusco encheu as taças de champanhe e, muito emocionado, prometeu fazer um discurso depois do brinde. Assim que tomou o primeiro gole, o pobre pedrusco foi ficando pequeno, pequeno, até desaparecer completamente. Procuramos o coitado por toda parte, mas nada! Houve até quem dissesse que ele sumiu para não pagar a conta.

Acontece que Pedrusco tinha bebido vinho demais e já estava meio tonto. Na hora do champanhe, trocou as garrafas e encheu sua taça com uma poção mágica que eu tinha preparado para dar sumiço nas moscas. E ele não voltou nunca mais. Coitadinho!... E assim, eu passei de solteira a casada e de casada a viúva, tudo no mesmo dia.

O pior foi que Pedrusco sumiu tão de repente que nem deu tempo de me
ensinar a fórmula mágica para acabar com os calos. Essa fórmula só ele
conhecia e funcionava às mil maravilhas.

Referência: E. LARREULA & R. CAPDEVILA, Scipione, 2003