quarta-feira, 2 de setembro de 2009

RETIRADO DO BLOG CARROSSEL DA APRENDIZAGEM

Meu aluno não sai do nível silábico!



Nesses anos que trabalhei com alfabetização, tive o privilégio de ter como colegas, professoras dedicadas, comprometidas e altamente qualificadas para a difícil tarefa de alfabetizar uma classe de 25 crianças. Contudo, percebi que na maioria dessas turmas, inclusive nas minhas, um pequeno grupo de alunos "estacionava" no nível silábico, deixando as professoras desesperadas...


Muitas crianças silábicas, se dão conta que sua escrita não corresponde à escrita dos livros, à escrita do seu nome e procuram, de muitas formas, evoluir em suas hipóteses. Mas, não é de qualquer aluno silábico que estou falando, é daquele que permanece um semestre inteiro, praticamente todo o ano letivo nesse nível de escrita, convicto de que uma sílaba se escreve com apenas uma letra, apesar da maioria dos colegas já estarem mais avançados e das inúmeras atividades realizadas nas aulas.


É claro que sabemos que cada criança irá desenvolver a escrita alfabética no seu tempo. Eu Porém, o mês de dezembro não espera cada aluno amadurecer para chegar e, infelizmente, crianças não alfabetizadas não passam para séries mais avançadas.


A difícil situação desses alunos me inquieta há algum tempo, e lendo o livro de CURTO (2000), vi que não é somente eu e minhas colegas que nos deparamos com essa problemática. Segundo o autor, a hipótese silábica é tão potente e satisfatória para as crianças, que lhes custa muito renunciar a ela.


Naturalmente, muitas crianças escolhem as vogais para representar as sílabas. Apesar de nunca terem visto uma palavra assim, e apesar de que seu nome, e os dos colegas, e os de muitas outras palavras que conhecem se escreverem com mais letras, e com consoantes, etc., elas escrevem assim:




AIOA - Mariposa




IE - Tigre




EAA - Janela




É maravilhoso: podem escrever qualquer palavra que lhes propusermos ou que queiram escrever. Nabucodonosor? Facílimo: AUOOOO. Constantinopla? OAIOA. Inconstitucionalissimamente? IOIUIOAIIAEE.


Podem escrever, inclusive, longuíssimos contos na escrita silábica... quanto mais a professora realizar atividades com as vogais, silabação e "separação de sílabas", mais as crianças estarão convictas de sua escrita. Para essas crianças, o método silábico é totalmente ineficaz.


Contudo, através dos meus estudos e experiência com as crianças, tenho percebido que é possível propor conflitos cognitos, para que as crianças repensem suas hipóteses e possam deixar a comodidade da hipótese silábica:




1) Escrita de Monossilábicos
Como escrever SOL? Pela lógica silábica, seria colocado apenas um O. porém, uma letra apenas é difícil de aceitar. As crianças irão pensar em soluções, como dividir ou dizer a palavra enfantizando o último som e escrevendo OU, ou SO. Isso já é um avanço...


Outras palavras monossilábicas para trabalhar com as crianças: pá, pé, má, lá...




2) Palavras com todas as letras iguais
Trabalhe com as crianças palavras como: Batata, Banana... Possivelmente, as crianças escreverão: AAA, AAA. Isso não pode ser lido, porque são todas iguais!




3) Palavras diferentes são escritas da mesma maneira?
Por exemplo, como é possível que SUCO (UO) seja igual a TUBO (UO), ou PESTANA (EAA) seja igual a SEMANA (EAA)? Isso também ofende o intelecto infantil e leva as crianças a pensar que é preciso usar outros critérios.




4) Os nomes próprios não podem ser escritos pela metade.
Na escrita dos nomes dos colegas, as crianças vão se esforçar ao máximo para escrevê-los corretamente, e podem utilizar os crachás ou o prório colega para conferir sua escrita.




5) As consoantes: uma solução
É importante desenvover a conciência dos sons das consoantes, o que é bem diferente de ensinar"famílias silábicas". Com muitos jogos e brincadeiras, é possível estudar os sons das letras. Algumas crianças poderão manter a hipótese silábica, porém com as consoantes, por exemplo, para ASPIRADOR, escreverá APRO, ou APRD, o que já é um avanço e a criança está há um passo da escrita silábico-alfabética.


Fonte: Escrever e Ler Volume 1 - Artmed

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